quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ainda bem...


"Teco,tereco,teco / É de carrapicho/ Joga a Joana/ Na lata de lixo.
(...) A lata furou... o lixo vazou".

Enquanto ouvia as crianças brincando alegres e tão inocentemente pronunciando a letra da conhecida brincadeira popular, pensava na  importância dos pais e professores,além de ensinar a brincadeira, também  levarem a criança a raciocinar e inferir a  mensagem implícita no texto. Muitas vezes com ideologias escusas de preconceitos e outros valores igualmente desumanos implícitos.

Enquanto a brincadeira prossegue, penso no quanto é bonito ver estas crianças brincando felizes! No entanto,ainda não sabem,mas espero que alguém lhes ensine que, muitas pessoas, assim como na brincadeira, são "jogadas" no lixo do mundo e passam a vida amarguradas  querendo, e nem sempre conseguindo, o seu lugar ao sol. O ser humano é contraditório.É capaz de reutilizar o lixo algumas vezes até transformando-o em luxo.Mas quanto ao outro homem,seja por inveja,ódio ou medo da competição, para se considerar vencedor ,abandona-o em um canto qualquer jogado fora até que ele,por si só ou com ajuda de algum anjo bom, encontra forças para dar a volta por cima e quem sabe, assim como a fênix que ressurgiu das cinzas, ser resgatada da lata de lixo.

Por sorte, a força para heroicamente superar seus limites naturais ou impostos,está dentro de cada um. Todos são capazes de virar o jogo. Acredito que superar limites  seja questão de atitude.

Enquanto observo as crianças brincando, a música infantil ressoa nos meus ouvidos: "(...) Joga a.... na lata de lixo". E a brincadeira prossegue até que a maioria ou todos é jogada um a um na lata de lixo. E até  que a lata fure e vaze o "lixo"...

Lá fora a chuva cai e  enquanto o ritmo dos pingos a cair no chão me fazem relembrar parte da minha história, a época em que  criança ainda, curiosa e cheia de esperanças aguardava ansiosa o fim da interminável noite,a chuva que agora escorre pelo  meu rosto se confundia com minhas lágrimas. E minha alma para abafar o meu pranto segreda ao meu coração: Sossega! Certamente estas crianças   aprenderão facilmente,desde que alguém consciente lhes ensine, que se tudo tem valor, quanto mais o ser humano! Prometo a mim mesma, oportunamente aproveitar esta oportunidade de  motivação para a formação de valores éticos nos meus alunos.

De volta para casa, coincidentemente uma cena prende a minha atenção: Um cãozinho, à  procura de comida,cai dentro de uma lata de lixo. Enquanto ele se debate na tentativa de se libertar, seu companheiro o estimula com frequentes latidos e rosnados ao mesmo tempo que o olha atentamente como se expressasse: Vamos lá! Você pode! O cãozinho logo depois, para minha surpresa, dando um salto lesto e seguro passou da lata ao chão.

Sorrindo, com o coração  já apaziguado, pensei:  Até os bichos são solidários! E voltei a pensar na letra de inúmeras outras brincadeiras infantis que precisam ser discutidas e analisadas com as crianças: "Atirei o pão no gato/ mas o gato não morreu/ Dona Chica admirou-se do berro que o gato deu", por exemplo, dá ideia de maltratar os animais.Porquê jogar  um  pau no pobre gato? É covardia!Isso não se faz! E esta? Boi da cara preta, pega esta menina que tem medo de careta". Se a menina já é medrosa, ainda vai  aumentar o seu medo mandando o boi pegá-la? Pura judiação. Só aumenta o seu medo. E enquanto na brincadeira "teco-tereco-teco",vão jogando todo mundo na lata de lixo,até o ponto"a lata furou,o lixo vazou",vou pensando no lixo,simbolizado na brincadeira por cada participante que vai sendo jogado na lata até que  fure  e consiga "vazar" por aí... Será que todo o "lixo" vazado encontrará quem o recolha e lhe ajude a ter o  seu destino certo? Sei,por experiência própria que ainda existem pessoas dispostas a  dar esta prova de amor ao mundo:Colaborar para a transformação da vida de quem alguns consideraram um dia- e até lhe fizeram acreditar, que o seu lugar era na lata de lixo. E lutam para reverter a realidade perversa tirando pessoas do "lixo".Quanto a mim  que nunca desisti de sonhar,consegui  esse milagre em minha vida e tenho procurado retribuir  o apoio que recebi .Mas e tantos outros abandonados,marginalizados?

Aprendi que a realidade somente começa quando a gente sonha junto e me alegro em saber que na verdade, eu nunca estive só. Ainda bem!

Com licença poética da grande Clarice Lispector,
"Ainda bem que  sempre existe um outro dia.
 E outros sonhos.
 E outros risos.
 E outras pessoas.
 E outras coisas".

E enquanto aguardo ansiosa o amanhecer deste outro dia, deixo aqui para você meu forte abraço.
Fique com Deus. Muita paz!
           Terezinha das Graças de Souza Couto-Psicopedagoga e especialista em Educação.

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